segunda-feira, 26 de junho de 2017

Maternar é chorar!

Se você faz parte das dramáticas choronas e nostálgicas de plantão, vem chorar comigo lendo esse texto:

Cartas para Helena! Sobre maternidade, autismo e o chororô da vida.

            Buri, 23 de Junho de 2017

Helena, no dia em que meu exame deu positivo eu chorei, chorei de emoção,  de felicidade, chorei por ter uma explosão de sentimentos e por não saber identificar nenhum deles.
Nas várias vezes em que eu tive sangramentos e precisei fazer repouso durante a gestação eu chorei, chorei por medo de perder você, chorei com receio de tudo dar errado outra vez.
No dia em que você nasceu eu chorei ainda mais, chorei de medo, chorei de emoção,  chorei para acalmar o coração.  No momento em que você chorou eu chorei de alívio,  chorei por gratidão, chorei de surpresa quando você nasceu menina e eu esperava um menino.
Nos seus primeiros meses de vida houveram noites em que eu chorei de cansaço, chorei pelas vacinas e pelas cólicas, chorei porque o novo me assustava, chorei de encanto.
 Quando você sorriu para mim eu chorei, chorei sem saber o porque de chorar, chorei por não saber administrar tanto amor dentro de mim.
Quando vc estava em tratamento de luxação de quadril eu chorei, chorei de medo, de pavor, chorei porque eu não sabia o que fazer. Quando você tirou o gesso eu chorei, chorei por poder te abraçar, chorei de amor, chorei porque eu precisava chorar.
Quando voce andou pela primeira vez no meu corredor eu chorei, eu chorei como nunca, um choro misturado com riso, um choro que sou incapaz de explicar.
No dia em que desconfiaram que você era autista eu chorei de preocupação, eu chorei porque sou a melhor em sofrer por antecipação. Quando fecharam o seu diagnóstico eu também chorei, chorei por me sentir perdida, chorei de angústia, chorei de medo do desconhecido, chorei pelo pavor de pensar no futuro, chorei porque eu precisava chorar. No meu processo de luto pós diagnóstico eu era apenas choro, mas eu precisava, porque chorar aliviava, chorar levava embora o desespero do momento. E quando você começou a falar eu chorei de felicidade, chorei pela realização de um sonho, chorei porque você tinha a voz mais rouca e linda desse mundo. E a cada passo que damos, eu choro de amor, choro por ser grata.
E é claro que eu estou chorando enquanto escrevo esse texto.
Maternar é chorar...
Obrigada Helena! Muito Obrigada!


segunda-feira, 30 de maio de 2016

Cartas para Helena! Um ano de diagnóstico!

Buri, 30 de maio de 2016.

Cartas para Helena!   

   Sabe filha, maio é um mês de nostalgia para mim, é ainda mais nostálgico que abril, o mês em que você nasceu, maio é um mês que eu emano gratidão, um mês que me trás lembranças não tão boas, um mês que por duas vezes trouxe notícias que mudaram a nossa vida da maneira mais doida possível. Eita maio... E é claro que eu não podia deixar de escrever para você. Na segunda semana de maio nós completamos um ano de diagnóstico, já faz um ano e eu não consigo acreditar, a sua melhora e o seu desenvolvimento são incomuns, você canta, me chama de mamãe um milhão de vezes ao dia e você está falando, não formando frases completas, mas você fala filha, você nomeia todos as coisas, reconhece pessoas, você sabe quem eu sou, você disse que me ama. Eu não preciso dizer o quanto me emociono de escrever e relembrar essas coisas, há um ano atrás eu sentia tanto medo, eu chorava sem saber o porque de estar chorando, eu tinha tantas incertezas, tantas dúvidas e no meio desses turbilhão de sentimentos eu também tinha infinitas perguntas, aliás ainda tenho muitas.
     Eu passei por um processo tão difícil, em nenhum momento eu não te aceitei, eu quero você de qualquer maneira, de qualquer jeito, eu só quero que seja você. A verdade Helena é que eu não me aceitava, eu não aceitava desfazer todos os planos que fiz para você, eu não aceitava que você não seria como eu idealizei a vida inteira até você chegar, logo eu a cheia de horários quando se tratava de você, a de rotina regrada também quando se tratava de você, a que cuidou minuciosamente da sua alimentação, eu que sempre fui extremamente ciumenta. Eu não queria acreditar que você não teria tantos amigos, que você não fizesse a aula de música, a aula de balé e as tantas outras coisas que eu sempre quis que você fizesse. 
     Quando eu digo que você chegou para tirar o meu controle eu não estou mentindo, você veio para desestabilizar a minha rotina e mudar a minha vida da maneira mais radical possível, você veio para despertar o melhor em mim e o pior também se for necessário. Deus te mandou para mim para me ensinar meio que na marra que o controle não é meu e sim Dele, Ele me deu você para me ensinar a valorizar os pequenos detalhes e também agradecer por eles, você veio para me trazer coragem para eu enfrentar os meus piores medos, você é o combustível de todos os dias.
Obrigada Helena! Obrigada por existir! Obrigada por me tornar mãe!


sábado, 21 de novembro de 2015

Tire o peso dos seus ombros...

      Exausta! Essa era a palavra que na maioria das vezes me descrevia, eu estava exausta. Exausta de uma maneira que sou incapaz de explicar, um cansaço físico, emocional, eu estava no limite. Eu mergulhei num mar de frustrações, medos e culpas, quanta culpa eu sentia... Enfim, passei por um processo de “luto” pós diagnóstico de uma maneira singular, mas foi um tempo necessário, um tempo difícil, porém, necessário. E foi dentro de todo esse caos que eu decidi que era o momento de desacelerar, eu precisava olhar para frente, precisava de 15 minutos, precisava fazer as coisas sem tanta loucura, eu queria ter mais tempo e também queria que ele fosse de qualidade. Eu precisava disso! E o mais importante, minha filha precisava disso! Já imaginou o quão estressante é para uma criança de 2 anos fazer quatro tipos de terapias por semana? E além disso ir para escola, ficar com babá e ter 5 minutos por dia com uma mãe que mal consegue raciocinar direito sem estar pensando em apenas dormir? PELO AMOR DE DEUS!!! Eu não queria ser essa mãe! Eu queria ser muito mais que isso, para mim e para ela. Decidi que diminuiria a carga horária no trabalho, ganhando bem menos, mas, ninguém pode ter tudo nessa vida, não é? Eu decidi que era o momento de me doar para quem mais precisava e era o momento de cuidar também de mim, porque se a cabeça não vai bem, o corpo padece.
       E as coisas se ajeitam... E é no meio do caos que a gente tira as melhores lições da vida, e como eu sempre digo, a Helena veio para tirar o controle das minhas mãos. Ela literalmente chegou para desestabilizar a minha rotina – se é que eu tinha alguma – e me por frente a frente com sentimentos perturbadores. No entanto, ela me trouxe a consciência de ser uma mulher poderosa, com múltiplos talentos e possuidora de uma força inexplicável e inesgotável. E o que mais eu tenho a dizer? Se é ela, mesmo sendo tão pequena, que me direciona a reflexão e a ação mais coerente.

        E a gente aprende.... Não dá para abraçar o mundo e tomar todas a dores para você, não dá para ser a Super Mãe, a Super Esposa ou a Super Mulher. Não dá para dar conta de tudo e de todos e isso não é vergonha para ninguém. Respire fundo.... Desacelere.... Tire o peso dos seus ombros...



segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Sossegue Mãe, você está fazendo certo!

      São seis horas da manhã e o celular está apitando, eu quero mais cinco minutos, porém, eu sei que os mesmos cinco minutos me farão uma falta danada mais tarde. Eu já posso ouvi-la no quarto ao lado, ela resmunga e joga alguma coisa no chão. Eu levanto, me visto, faço o rabo de cavalo que eu estou usando desde quando mesmo? Eu nem lembro... Eu me olho no espelho e só nesse momento eu lembro que preciso tirar as sobrancelhas. Eu a carrego no colo e ligo a TV para assistir o mesmo episódio da Peppa pela milésima vez, troca roupa, põe sapato, faz rabinhos nos cabelos, ela reclama um pouco. Eu estou avoada, é tão rotineiro que meus movimentos chegam a ser automáticos, eu corro na cozinha para colocar alguma coisa de comer na bolsa e vejo que o meu santo marido já deixou tudo arrumado em cima da mesa. Põe bebê na cadeirinha, entra no carro, chega ao trabalho, mais uma vez eu estou no piloto automático, eu resolvo o que é preciso com a cabeça na creche e pensando em casa, eu me culpo por sobrecarregar tanto meu marido com o serviço doméstico que era para eu estar realizando, eu me culpo por deixar tanto tempo minha filha na creche e logo depois mais uma horinha com babá. Eu trabalho e olho no relógio, é hora de almoçar, chego em casa, como e saio, o que eu faria se tivesse mais tempo? Hoje é dia de terapia, corro de um lado para outro, pego filho na escola, 40 min de sessão, um bate papo com a psicóloga, da um beijinho, entrego pra babá e corro de volta para resolver o que ainda falta. O dia está acabando e é hora de ir embora, chego em casa, preparo banho, ela brinca no celular e eu já penso em como driblar ela pra pegar o aparelho sem chororô, ela brinca na água e tenta conversar comigo, eu tento entender mas nunca consigo. Enrolo ela na toalha, pego no colo, visto pijama, ela já está sonolenta com a chupeta na boca. Tomo banho sonolenta, engulo qualquer coisa e deito, as costas reclamam e eu estou morta de sono, me sinto anos mais velha, ainda é tão cedo para dormir. No quarto ao lado ela reclama, bate porta e me chama, eu pulo o cercado da porta e me deito com ela, e nesse momento ela me olha, fundo nos olhos, aquele olhar tão doce e gentil, sem malicia, sem medo, ela é só amor, o meu amor e eu sei que essa é a maneira dela dizer que me ama, ela pega na minha mão me pedindo carinho, eu agradeço a Deus por ela, clamo por saúde e por sabedoria para eu enfrentar o que for preciso, ela continua me olhando e é como se ela me dissesse: Sossegue Mãe, você está fazendo certo... E pela primeira vez na correria do dia a dia eu estou relaxada, eu não me sinto culpada, ela é minha e eu sou dela, assim, por inteiro, não existe outro jeito. Sossegue doce mãe, você está fazendo certo... Aquiete o seu coração pai, você está fazendo certo...

Um Beijo,
Da Mãe da Helena!

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Eu sei como você está se sentindo...

     Eu sei que a vida não está nada fácil, que você muitas vezes se sente sem chão, está exausta. Sei que você acorda várias vezes de madrugada, se você estiver tendo sorte de poder dormir. Eu sei que há dias em que você tem vontade de sair correndo e gritando. Eu sei que você trabalha muito, corre além do que pode e também se culpa na mesma medida, se culpa por deixar o filho na creche, se culpa por ter que deixar com babá, se culpa por ter tão pouco tempo de qualidade com ele. Eu também sei que você engole a comida todos os dias porque não tem tempo de almoçar direito. Cuidar de você então, nem se fale, você nem lembra qual foi a última vez que tirou as pontas dos cabelos, se empetecar para você se torna luxo e ninguém entende, você sempre ouve que ainda é tão jovem para não se arrumar mais e que é tão linda para viver de rabo de cavalo. O que ninguém vê é você correndo para pegar filho na escola, levar nas diversas terapias que ele faz, voltar trabalhar, voltar pra casa e não ter cinco minutos sequer para pensar, e se caso você tiver esses cinco minutos, você quer apenas dormir, nada mais. Acredite, eu sei o que é administrar um futuro incerto, você não sabe como vai ser, não sabe o que vai acontecer e o pior de todo esse transtorno é não ter controle sob situação. Eu sei o que é lidar com essa sociedade que apenas fingi, fingi que aceita, fingi que inclui, fingi que entende, fingi que é normal. Eu sei o que é chorar com uma conquista tremendamente pequena ao olhar alheio e ouvir do outros como eu sou boba e choro por qualquer razão. Eu sei o que é as pessoas acharem que você está de drama, que você está sempre cansada demais, mas para quem está de fora tudo é fácil, para quem está de fora a fresca sempre será você. Mas só apenas quem vive na pele é capaz de entender tudo o que uma mãe especial vive, sabe o quão difícil e o quão desafiador é tudo isso. E eu desejo a você Mãe, que se sente cansada e sobrecarregada que chore, faça drama, converse e estrapole, pois no meio da caminhada o fardo é tão pesado que a gente necessita ter cinco minutos de loucura, ter cinco minutos de choro constante para ver se alivia. E eu desejo a você que tenha força, muita força, para lidar com o que for preciso. Eu desejo a você que encontre profissionais capazes que se importem e amem seu filho como eu encontrei. Eu desejo a você e a mim sabedoria para ignorar os comentários desnecessários, para ignorar a perspectiva de quem está de fora. Porque quem vive sou eu, é você Pai ou Mãe que encara de frente o desafiador autismo todos os dias. Então levante a cabeça e siga em frente! E quando o fardo estiver pesado demais, olhe para o seu filho e o veja sorrir, ele pode não falar muito, mas ele sabe demonstrar que te ama.



Um abraço,
Da Mãe da Helena!

sexta-feira, 10 de julho de 2015

A Mãe que eu quero ser! X A Mãe que eu sou!

        Eu já fui mãe em tempo integral, hoje eu sou a mãe que trabalha fora, a mãe que sai logo cedo e deixa o filho na creche, muitas vezes com o coração partido e com o sentimento de que não está fazendo a coisa certa. Eu sou a mãe que chora por tudo, vibra por toda e qualquer evolução, a mãe que aprendeu a agradecer a Deus pelos pequenos detalhes. Eu sou a mãe real sem maquiagem ou cabelo arrumado, a mãe que empeteca a filha e na hora de sair veste um jeans e faz um rabo de cavalo na correria. Eu sou a mãe que deu chupeta, mamadeira e não conseguiu amamentar. Sou a mãe que já chorou de cansaço embalando filho pequeno durante a madrugada. Sou a mãe que sente culpa, se culpa a todo momento. Sou a mãe que foi criticada pela rotina regrada que deu a um bebê tão pequeno. Eu sou a mãe que recebeu um diagnóstico e perdeu o chão, se perguntou o que faria, pensou em tanta coisa, que decidiu não pensar em mais em nada. Eu sou a mãe mais coruja do mundo, talvez a mais louca e a mais apaixonada. Eu quero ser a mãe forte que da conta do recado, aquela que não deixa a desejar. A mãe que segura na mão e mostra o caminho correto. Eu quero ser a mãe que passe os devidos valores. Quero ser a mãe que não esquece de dizer que ama, a mãe que abraça, beija e pega no colo, mesmo quando o filho já é grande demais para isso. Eu quero ser a mãe sábia que sabe corrigir e instruir ao caminho correto. Eu quero ser a mãe que chora em apresentações escolares, que vibra com a conquistas, a mãe presente. Mas de todos os "quereres" dessa vida e de talvez até de outras, eu só quero ser mãe dela e eu a quero do mesmo jeitinho, com as mesmas manias e os mesmos carinhos. Essa sou eu, e o que eu sou sem ela? O que sou eu sem todos os desafios e prazeres de ser mãe da Helena? Ela é minha e eu sou dela. A prova é dela e o desafio é meu! A vida é passageira e eu só quero continuar sendo eu, desse jeito, sem mudar. Sendo mãe, amiga e tudo o que puder para ela.


Um beijo nosso e uma ótima sexta!
Da Mãe da Helena!

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Recebi o diagnóstico! Por que comigo? E agora?

       Talvez você esteja se perguntando porque tudo isso está acontecendo, ele(a) é seu primeiro filho, o filho(a) que você tanto sonhou e demorou anos para chegar. Ou também pode ser que ele(a) não seja o seu primeiro, ele(a) pode ser o segundo, até mesmo o terceiro e você se pergunta o motivo dele(a) ter vindo tão diferente dos irmãos. Talvez você tenha milhões de dúvidas, medos e inseguranças, a sua mente de mãe viaja para o futuro e você se desespera tentando imaginar como vai ser. Talvez o seu medo seja lidar com a sociedade preconceituosa em que vivemos ou talvez o seu medo seja abrir um jogo para a família. Ele(a) vai falar? Vai poder frequentar escola regular? Ele(a) vai poder trabalhar? Como vai ser a adolescência? Como ele(a) vai se relacionar com o mundo? São tantas perguntas, tantas coisas para pensar...
        Acalme o seu coração mãe, agora não é hora de pensar em tudo isso. Creia em Deus, o fardo nunca é maior do que nós podemos suportar. Acredite em você, você vai dar conta, parece difícil, mas viva um dia de cada vez, pare de planejar e tentar ter sempre tudo sob controle, você não é perfeita e está longe de ser. Viva e faça valer a pena o hoje!
        Quando eu recebi o diagnóstico a algumas semanas atrás eu também perdi o chão, eu também chorei horrores, eu também me fiz bilhões de perguntas, porém, eu precisava e preciso ser forte por ela e para ela todos os dias e é para isso que eu estou aqui. Helena, veio para minha vida para me mostrar que eu não tenho controle sob a situação, ela veio para me ensinar a valorizar o pouco, para me ensinar a enxergar e amar os mínimos detalhes. Mas Julia, o que eu faço agora?
         Agora ame incondicionalmente, ame como se fosse a única coisa que você é capaz de fazer, ame porque ele(a) não precisa de mais nada além da sua presença e do seu amor. Chore! Chore para lavar a alma, chore por chorar, chore quando você precisar. Aceite! Essa é a parte mais importante, tudo vai melhorar depois que você aceitar. Não se culpe! A culpa não é sua, não é do seu marido ou de qualquer outra pessoa. Ore! Peça a Deus por sabedoria, para que você seja capaz de lidar com tudo o que vier.
        E nunca se esqueça: Ele(a) precisa de você! E você precisa dele(a)!