São
seis horas da manhã e o celular está apitando, eu quero mais cinco minutos,
porém, eu sei que os mesmos cinco minutos me farão uma falta danada mais tarde.
Eu já posso ouvi-la no quarto ao lado, ela resmunga e joga alguma coisa no chão.
Eu levanto, me visto, faço o rabo de cavalo que eu estou usando desde quando
mesmo? Eu nem lembro... Eu me olho no espelho e só nesse momento eu lembro que
preciso tirar as sobrancelhas. Eu a carrego no colo e ligo a TV para assistir o
mesmo episódio da Peppa pela milésima vez, troca roupa, põe sapato, faz
rabinhos nos cabelos, ela reclama um pouco. Eu estou avoada, é tão rotineiro
que meus movimentos chegam a ser automáticos, eu corro na cozinha para colocar
alguma coisa de comer na bolsa e vejo que o meu santo marido já deixou tudo
arrumado em cima da mesa. Põe bebê na cadeirinha, entra no carro, chega ao
trabalho, mais uma vez eu estou no piloto automático, eu resolvo o que é
preciso com a cabeça na creche e pensando em casa, eu me culpo por
sobrecarregar tanto meu marido com o serviço doméstico que era para eu estar
realizando, eu me culpo por deixar tanto tempo minha filha na creche e logo
depois mais uma horinha com babá. Eu trabalho e olho no relógio, é hora de
almoçar, chego em casa, como e saio, o que eu faria se tivesse mais tempo? Hoje
é dia de terapia, corro de um lado para outro, pego filho na escola, 40 min de
sessão, um bate papo com a psicóloga, da um beijinho, entrego pra babá e corro
de volta para resolver o que ainda falta. O dia está acabando e é hora de ir
embora, chego em casa, preparo banho, ela brinca no celular e eu já penso em
como driblar ela pra pegar o aparelho sem chororô, ela brinca na água e tenta
conversar comigo, eu tento entender mas nunca consigo. Enrolo ela na toalha,
pego no colo, visto pijama, ela já está sonolenta com a chupeta na boca. Tomo banho sonolenta, engulo qualquer coisa e deito, as costas reclamam
e eu estou morta de sono, me sinto anos mais velha, ainda é tão cedo para dormir. No quarto ao lado ela reclama, bate porta e me chama, eu pulo o cercado
da porta e me deito com ela, e nesse momento ela me olha, fundo nos olhos,
aquele olhar tão doce e gentil, sem malicia, sem medo, ela é só amor, o meu
amor e eu sei que essa é a maneira dela dizer que me ama, ela pega na minha mão
me pedindo carinho, eu agradeço a Deus por ela, clamo por saúde e por sabedoria
para eu enfrentar o que for preciso, ela continua me olhando e é como se ela me
dissesse: Sossegue Mãe, você está fazendo certo... E pela primeira vez na
correria do dia a dia eu estou relaxada, eu não me sinto culpada, ela é minha e
eu sou dela, assim, por inteiro, não existe outro jeito. Sossegue doce mãe,
você está fazendo certo... Aquiete o seu coração pai, você está fazendo
certo...
Um Beijo,
Da Mãe da Helena!
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